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e da Ilha Terceira de Antanho...

 

 Retalhos da Vida Comunitária Torontina
e da Ilha Terceira de Antanho...

Oscildo Alcáçova Couto de Sousa
Entrevista conduzida por: Manuel Cândido Martins
Fotos: Adiaspora.com


 

"Recordar é viver": Manuel Cândido Martins conversa com Oscildo de Sousa

 

ADIASPORA.COM: Por ironia do destino, hoje encontro-me aqui com o Senhor Oscildo de Sousa, um velho amigo que, nestes assuntos de jornalismo e jornalistas, não sirvo para lhe atacar os sapatos. Mas ele, com toda a sua modéstia, aceitou o meu pedido, apesar de a sua memória não estar bem activa por ter sofrido, há oito anos, um acidente cardiovascular que o levou a uma cadeira de rodas. Por favor, diga-nos o seu nome completo, lugar e ilha onde nasceu, para os ávidos cibernautas do portal Adiaspora.com.

OCILDO DE SOUSA: O meu nome é Oscildo Alcáçova Couto de Sousa. Nasci na freguesia de Santa Luzia, em Angra do Heroísmo, numa casa que faz canto. Lá em cima, depois de subir aquela ladeira toda, vira-se à direita e aí está a casa onde nasci.

ADIASPORA.COM: Poderá dizer-nos qual a origem desse seu apelido “ Alcáçova”?

ODS: O nome ““ Alcáçova” é um nome sui generis, o que quer dizer que é um nome que não é muito usado em Portugal. É originário do Continente e significa o seguinte: as alcáçovas eram pequenas moradias que havia nos castelos dos reis e o meu avô era o mandatário dessas igrejinhas e desses solares onde viviam os reis. Ainda hoje há documentos assinados pelo rei. Estão na posse da minha irmã Odília, que reside em Lisboa.

Aspecto do estádio de futebol em Ponta Delgada

ADIASPORA.COM: Com eram as vivências na época em que era menino e moço? Lembra-se?

ODS: O que havia antigamente é completamente diferente do que há agora. Hoje, há os computadores, há coisas computerizadas. Já não se vê o que se via antigamente. Nesses tempos, fazia-se um carrinho de bois, cujos bois eram feitos da maçaroca de milho depois do grão ter sido removido. Por aí já se vê a diferença do que havia antigamente e o que há nos dias de hoje. Então, qualquer coisa servia para se fazer um brinquedo.

ADIASPORA.COM: Refere-se aos anos precedentes ao seu ingresso na escola primária, ou depois? Já na escola, andava com esses carrinhos de bois feitos do sabugo do milho?

ODS: Pois na realidade, foi no tempo em que era menino e moço, em que a escola primária era na Igreja de S. Pedro e o docente, o Professor Moniz. A escola das raparigas era em São Pedro, mas mais para cá, depois de descer a rampa do Alto das Covas. Era logo ali, à direita, por cima de uma barbearia. Hoje é uma marcenaria, onde fabricam diversas coisas...

ADIASPORA.COM: Lembra-se, já quando era mais crescido, já moço, das andanças pela cidade de Angra do Heroísmo com os seus amigos? Por certo, frequentavam os clubes, faziam passeios ao Fanal, corriam a zona da Silveira, aqueles lugares onde é hábito a rapaziada se juntar como o Porto Pipas? O que nos diz sobre essas andanças por esses lugares. Frequentou-os com os seus amigos?

Exibição do Troféu, Ponta Delgada

ODS: Pois na realidade, frequentava muito esses lugares e lembro-me que, numa altura, deram-se uns abalos de terra na Terceira. Num Sábado, estávamos preparados para ir aos bares, ao Clube Musical, e, claro, já não fomos. Regressámos a casa para ver o que tinha acontecido por lá e como estava o pessoal. Um rapaz, o Flores, estava no Sindicato e foi a uma varanda, a uma janela, a mais alta de todas, e estava pronto para saltar para baixo, para a Rua da Sé, tal foi o susto e o medo que passámos nesse tempo!

ADIASPORA.COM: É sempre difícil quando acontecem esses cataclismos, com a terra a tremer. No entanto, isso acontecia e todos continuavam a sua vida normal com se nada tivesse sucedido. Era só nas ocasiões em que havia um desastre de maiores proporções que talvez os habitantes de toda ilha fossem obrigados a sair de suas casas. Isto chegou a acontecer?

ODS: Bem, estes últimos abalos de terra, em que parte da cidade ficou destruída, foram os mais severos, mas felizmente, hoje em dia, está tudo relativamente resolvido, graças a Deus!

ADIASPORA.COM: Depois dos estudos primários, provavelmente transitou para outra escola. Que escola frequentou então?

ODS: Frequentei a Escola Dr. Oliveira Salazar, que era em Angra do Heroísmo, com problemas grandes e outros menores, mas os quais lá se iam resolvendo. Havia lá um professor que não gostava de mim, não sei porquê. Era o Dr. Moniz,  o professor de matemática. Mas fui a exame e passei, ficando dispensado da prova escrita.

ADIASPORA.COM: Depois da escola, claro que se empregou. Recorda-se dos lugares onde trabalhou?

ODS: Arranjei emprego na Farmácia Oliveira. Estive lá cerca de uma ano, ou pouco mais de um ano. A seguir, fui para a Alfândega de Angra como ajudante de despachante. O meu irmão Odemiro era despachante e levou-me para lá, e lá estive durante muitos anos. Foi de aí que eu vim para o Canadá.

ADIASPORA.COM: Quando emigrou para o Canadá, já estava casado, já tinha filhos? Veio acompanhado ou veio sozinho?

ODS: Vim acompanhado pela minha esposa e pelos meus três filhos. Viemos todos via Montreal. Tivemos problemas lá, porque a companhia de aviação não nos queria arranjar lugar para passarmos essa primeira noite, em Montreal. O meu filho, Duarte Alexandre, já falecido, era vivo. Era muito metido lá consigo e tinha lá os seus problemas, as suas coisas, e fazia muitas traquinices. Às tantas, meteu-se por terra adentro e perdemos o rapaz. Onde está? Onde não está? Apareceu mais tarde, na companhia de uma das hospedeiras de bordo do avião em que viajámos. Esta viu que ele estava perdido e veio trazer-nos o pequeno.

ADIASPORA.COM: Veio directo para a Cidade de Toronto, com escala em Montreal, ou para Montreal e só depois resolveu vir para Toronto?

ODS: Não, vim directo para Toronto, mas tivemos de fazer uma aterragem em Montreal, devido ao tempo salvo erro. Passámos por Montreal, mas é claro, saímos do aeroporto apenas para irmos para a pensão onde pernoitámos.

ADIASPORA.COM: Como se adaptou à sua nova terra, casado e com filhos? Alguém já os esperava cá?

ODS: Na realidade, o meu cunhado, Alberto Ferreira, também ele já falecido, é que estava à nossa espera no aeroporto e lá viemos com ele para baixo. Como era de esperar, isto era tudo diferente, completamente diferente daquilo a que estávamos habituados. Começámos a ver isto, ver aquilo, ver aqueloutro, e era tudo enorme, muito grande. É evidente que a Ilha Terceira, em comparação, era uma mera gota no oceano.

Oscildo Couto de Sousa em Ponta Delgada

ADIASPORA.COM: Temos conhecimento que foi um artesão muito habilidoso, manufacturando objectos com matérias-primas que encontrava à sua volta, mormente réplicas em miniatura das igrejas e ermidas da sua amada Ilha Terceira. Digo amada, porque sei que era muito bairrista. A Ilha Terceira era um pequeno mundo para si e defendia, de forma apaixonada, a sua integridade, as suas belezas e a sua história! Estou certo?

ODS: Bem, na verdade, é assim mesmo, pois a Terceira é a minha terra, a terra onde nasci!

ADIASPORA.COM: Sabemos também que, ainda lá na Terceira, ingressou no Sport Clube Lusitânia. Foi jogador de futebol ou simplesmente um adepto? Tenho conhecimento que andou por lá e que ainda hoje mantém a sua camisola verde.

ODS: Joguei futebol no Lusitânia, nas reservas e nos juniores, mas foi só. Nunca fui jogador suficientemente bom para ir para as primeiras categorias. Mas nas reservas e nos juniores, de facto, joguei futebol naquele clube. Também fui Director da Secção de Futebol do Lusitânia, no ano em que fomos a São Miguel e ganhámos o campeonato açoriano!

ADIASPORA.COM: Ao que parece, foi também sócio e pertenceu aos corpos gerentes do Sport Clube Lusitânia de Toronto...

Sport Club Lusitânia, Campeonato Açoriano

ODS: Na verdade, sim. O Sport Clube Lusitânia de Toronto foi iniciado por Fernando Gonçalves. Certo dia, veio à minha casa para me convidar para ser Presidente da Assembleia-Geral. Assim foi, e estive lá durante cinco anos e meio. Foi bastante tempo e ainda hoje é o meu clube predilecto: o Sport Clube Lusitânia de Toronto!

Sport Club Lusitânia de Toronto

ADIASPORA.COM: Em 1998, o Senhor Oscildo juntou os clubes de raiz açoriana, para debater um artigo publicado no “Portuguese Times”, de New Bedford, Massachusetts, nos Estados Unidos, o qual alegava que as Casas dos Açores estavam a ser subsidiadas pelo Governo Regional dos Açores, afirmação esta com a qual não concordava. Fez um apelo às colectividades açorianas existentes em Toronto à época e que hoje ainda continuam activas. Entre as convocadas, o Amor da Pátria, Angrense, Graciosa e Asas do Atlântico. O que nos conta sobre esse tempo em que se encontrava activo nas lides comunitárias?

ODS: Apareceu esse artigo num jornal americano, o nome do qual agora não me recordo. Movimentei as coisas e fiz o possível para alertar os clubes açorianos, para que estes não assinassem ao que a Casa dos Açores de Toronto queria na altura. Ao que parece, esta colectividade está a apresentar novamente posturas semelhantes às de então, repetindo-se assim a história. Felizmente, hoje estou afastado de tudo isso, por virtude de ter sofrido, há oito anos, esta doença, um stroke (acidente cardiovascular), mas aqui estou. Hoje, estou sempre em casa e não saio...

ADIASPORA.COM: Depois de ter sofrido o AVC, como tem sido a sua vida? Como tem enfrentado as dificuldades e os contratempos que esta doença lhe acarretou?

ODS: Estou reformado da Dulles Aircraft, do Canadá, já há dez anos. Foi a pouco mais de um ano depois de me ter aposentado que me deu esta doença, e eis-me aqui, em casa. Vejo televisão e converso com a minha mulher. Enfim, vamos passando o tempo e é isto. Hoje, não saio, nem vou para lado nenhum. Tampouco tenho disposição para ir agora enfrentar aquilo que, noutros tempos, enfrentei. Estou muito diferente. Hoje a minha vida é em casa, de onde não saio...

ADIASPORA.COM: Senhor Oscildo, da minha parte e de Adiaspora.com, os nossos mais sentidos agradecimentos por ter despendido este tempo connosco. Um abraço e até ao próximo encontro. Muito obrigado!

José I. Ferreira Director de Adiaspora.com e Oscildo Couto de Sousa

 

 

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